quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E SEUS PARADIGMAS.


A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E SEUS PARADIGMAS.

Quando se fala em docência, podemos viajar no mundo da teoria e prática e a reprodução do conhecimento.
Sempre fui assídua nas formações e a elas devo muito do que tenho de bagagem tanto teórica quanto na prática. As formações que já participei ao longo desse tempo ( falo aqui das escolas particulares que foi onde comecei e permaneci a metade da minha vida profissional) eu aprendi muito e levei intrinsecamente esses “fazeres” de tal forma que contagiava a minha sala de aula. Não sei o que está acontecendo com os docentes e formadores desse novo tempo. Isso está ocorrendo tanto nas redes particulares , quanto nas redes públicas, onde o desanimo, o descaso faz parte na mistura das propostas nas formações.
Falando em prática, na melhor hipótese, ela foi apresentada como o saber fazer. O professor realizava a atividade e o aluno copiava ou imitava sem questionar. O preparo para ser professor, por muitos séculos, permaneceu focalizado exclusivamente no domínio do conteúdo. O docente precisava ter domínio do conhecimento para ministrar uma ou mais disciplinas. ( viajo nesse momento em minha memória, vivenciando minha vida nessas escolas, dando aula de historia, geografia , filosofia e sociologia e toma-lhe domínio!!1)
O passado se repete no futuro. A educação herda a visão do determinismo e do mecanicismo. Nesse modelo conservador , dominante que acompanhou a humanidade e a educação até grande parte do século XX. A formação de professores foi designada como treinamento ou capacitação. No paradigma conservador, esses termos têm o sentido de ATUALIZAÇÃO ou PREPARO sistemático para determinada tarefa. Nessa visão que perdura a nossa pratica pedagógica, ainda hoje, o professor da educação em geral, apresenta-se como um profissional que assume o saber- fazer acreditando que pode garantir o saber – ensinar. 
Mas o que é realmente ensinar?
Ensinar é formar o aluno? Se formos a luz da etimologia, formar define modelar, busca dar forma ao individuo, eles serão formados na medida em são modelados, isto é , são transformados no tipo de produto que se toma como modelo...
E mais instigante ainda, é a definição de formar – conformar. Muito mais grave. Nesse caso, a intenção é fazer com que o individuo aceite e conforme com o planejamento de vida e de atividades para o qual foi formado.
As formações que tanto querem embasar o professor para uma vivencia pedagógica eficaz, está ensinando ou formando o profissional? Em geral, esse treinamento, vem acompanhado de uma proposta planejada com materiais antecipadamente selecionado pelo departamento de formação , com apostila, descrição de atividades ou tarefas a ser cumprida. A execução da atividade nas formações independe da opinião da pessoa envolvida ( professor) pois a finalidade seria a repetição de determinada tarefa de maneira criteriosa e a submissão dos profissionais às regras pré – estabelecidas.
A qualificação profissional recebe a designação de capacitação que adquire força nas escolas. A capacitação tem como finalidade o acompanhamento e a qualificação de recursos humanos para repetir tarefas, em especial pela crescente e continua evolução das tecnologias. ( se o educador não se inserir nessa era digital será condicionado a ser um analfabeto digital e totalmente descartável)  a capacitação e a atualização dos profissionais tem como  objeto a preparação de pessoal habilitado para um determinado manejo ou técnica. A capacitação pode ser entendida como o convencimento ou persuasão, o que geraria  um treino sem abordagem  CRÍTICA E REFLEXIVA.
Marin em seu livro sobre docência, diz:
“ O profissional da educação não pode e nem deve ser persuadido ou convencido de ideias ; ele deve conhecê-las, analisá-las, criticá-las e até mesmo aceitá-las”.
 Nas décadas de setenta e oitenta , as capacitações, em geral designadas como RECICLAGEM tinham a finalidade de renovar ou remodelar a prática pedagógica dos docentes. Essa reciclagem queria gerar o papel de professores multiplicadores, onde aquele que iria para a formação ( reciclagem) , acreditavam que podiam repetir seu preparo para aqueles que não foram e assim passaria sua aprendizagem sua experiência , repetir seu preparo para o outro colega. Esta proposta  nem chegava a uma verdade de fato, pois o professor realizava um curso com profissionais qualificados e ao chegar à instituição tinha dificuldade em realizar a função de preparar seus colegas para nova atividade. Em geral, os professores escolhidos para tal RECICLAGEM não tinham os pressupostos necessários para oferecer a capacitação para seus colegas.
Os nossos formadores estão capacitados para esse trabalho? As propostas que trazem para as formações são analisadas e escolhidas para realidade de sala de aula e com embasamento dos próprios educadores?
Ainda bem que essa nomenclatura RECICLAGEM foi condenada, pois tendo como significado refazer o ciclo, ela implica em voltar à universidade para refazer sua formação.
Nesse paradigma , a capacitação tem como objetivo a atualização, a qualificação e o aprimoramento dos profissionais e tem como finalidade possibilitar a maior eficiência e eficácia no desempenho de atividades e tarefas em suas funções. Este paradigma precisa ser rompido com urgência , pois estamos LEGITIMANDO  a reprodução, a memorização, a fragmentação do conhecimento,
Nóvoa , em seu livro sobre capacitação, diz:
A formação não se constrói por acumulação ( cursos, atividades pré- estabelecidas, técnicas), mas sim por um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de reconstrução permanente de uma identidade pessoal. Por isso, é tão importante investir na pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência.”
Estamos mantendo um protocolo , obedecendo a critérios pré- estabelecidos, levando os educadores a uma vez por mês se sentarem e compartilharem um encontro que serve somente para  a provocação, mas não instrumentalizam esses profissionais para modificar a docência. Alguns professores de maneira voluntaria buscam investigar novas metodologias para ensinar e aprender, mas, na realidade , MUITOS,docentes sofrem a pressão da gestão e dos próprios alunos para mudança. Uma mudança que está gritando e que de forma contraditória essa mesma gestão engessa.
Mudanças. Em meio a tantas, com as quais se articula toda a sociedade capitalista, a qualidade da educação é tida como a meta do governo para a educação no Brasil, de forma a considerar que a formação profissional é o único caminho que leva à obtenção da qualificação desejada. Estímulos, como garantir uma remuneração baseada no histórico- cognitivo do aluno, tendo como base a produção em sala de aula. Se a turma for bem assistida e notas boas o professor terá uma gratificação, baseada nessa premissa. Entretanto, não se pode desconsiderar que toda essa gama de estímulos do governo, não é, por si só, garantia de qualidade.
Nessa sociedade emergente do conhecimento começa a ser cada vez mais urgente formar e preparar as pessoas para o incerto, para a mutação e para situações únicas e até chocantes que lhes exijam um maior esforço para a paz e o desenvolvimento de maiores capacidades de resiliência.
Como preparar nossos alunos para essa atual sociedade da resiliência? Nossas formações dão condições para o professor preparar essa nova sociedade? Sabemos que não. A resiliência é a capacidade de submeter-se a uma gama de problemáticas e ações tendo como premissa o “esticar” o “adequar”o “persistir” o “resistir” sem se quebrar. Como uma mola que estica e não perde o seu formato. Ela a cada instante se adéqua de maneira perfeita e RESILIENTE.
Formações que se constrói a ideia de que estudar não demanda esforço, busca-se a titulação sem esforço, uma formação de faz de conta  , segundo a qual um ensina ( ensina o que?)e um outro aprende ( aprende o que?) nesse sentido desfigura-se totalmente o ensino-aprendizagem ( a resiliência). O conhecer, o explicar, o compartilhar, o construir, o avaliar, nesse processo, fica onde? Como o aluno terá condições de concorrer aos caminhos da Universidade se os professores não são capazes de levá-los a percorrer esse caminho?

Participar das formações nesses tempos é jogar fora um tempo precioso ao que tange ensino – aprendizagem.
O que está acontecendo com nossos formadores, com a política que envolve a formação? Onde está o fio da meada para que possamos juntos tecer novamente e não se perder mais? O que podemos fazer para mudar e mudar urgentemente essa situação?
Fico triste, decepcionada quando deparo com professores que tiram esse tempo para simplesmente sair de sala de aula, como uma folga, um escape, e não pela necessidade de se preparar adequadamente, ou buscar refletir seu fazer pedagógico, mas deveras, sabemos que nossas formações, como foi citado acima precisa urgentemente de uma resignificação.

                                        Gleide Borges Hartuique

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