A FORMAÇÃO DE
PROFESSORES E SEUS PARADIGMAS.
Quando se fala em docência, podemos viajar no
mundo da teoria e prática e a reprodução do conhecimento.
Sempre fui assídua nas formações e a elas
devo muito do que tenho de bagagem tanto teórica quanto na prática. As
formações que já participei ao longo desse tempo ( falo aqui das escolas
particulares que foi onde comecei e permaneci a metade da minha vida profissional)
eu aprendi muito e levei intrinsecamente esses “fazeres” de tal forma que
contagiava a minha sala de aula. Não sei o que está acontecendo com os docentes
e formadores desse novo tempo. Isso está ocorrendo tanto nas redes particulares
, quanto nas redes públicas, onde o desanimo, o descaso faz parte na mistura
das propostas nas formações.
Falando em prática, na melhor hipótese, ela
foi apresentada como o saber fazer. O professor realizava a atividade e o aluno
copiava ou imitava sem questionar. O preparo para ser professor, por muitos
séculos, permaneceu focalizado exclusivamente no domínio do conteúdo. O docente
precisava ter domínio do conhecimento para ministrar uma ou mais disciplinas. (
viajo nesse momento em minha memória, vivenciando minha vida nessas escolas,
dando aula de historia, geografia , filosofia e sociologia e toma-lhe
domínio!!1)
O passado se repete no futuro. A educação
herda a visão do determinismo e do mecanicismo. Nesse modelo conservador ,
dominante que acompanhou a humanidade e a educação até grande parte do século
XX. A formação de professores foi designada como treinamento ou capacitação. No
paradigma conservador, esses termos têm o sentido de ATUALIZAÇÃO ou PREPARO
sistemático para determinada tarefa. Nessa visão que perdura a nossa pratica
pedagógica, ainda hoje, o professor da educação em geral, apresenta-se como um
profissional que assume o saber- fazer acreditando que pode garantir o saber –
ensinar.
Mas o que é realmente ensinar?
Ensinar é formar o aluno? Se formos a luz da etimologia,
formar define modelar, busca dar forma ao individuo, eles serão formados na
medida em são modelados, isto é , são transformados no tipo de produto que se
toma como modelo...
E mais instigante ainda, é a definição de
formar – conformar. Muito mais grave. Nesse caso, a intenção é fazer com que o
individuo aceite e conforme com o planejamento de vida e de atividades para o
qual foi formado.
As formações que tanto querem embasar o
professor para uma vivencia pedagógica eficaz, está ensinando ou formando o
profissional? Em geral, esse treinamento, vem acompanhado de uma proposta
planejada com materiais antecipadamente selecionado pelo departamento de
formação , com apostila, descrição de atividades ou tarefas a ser cumprida. A
execução da atividade nas formações independe da opinião da pessoa envolvida (
professor) pois a finalidade seria a repetição de determinada tarefa de maneira
criteriosa e a submissão dos profissionais às regras pré – estabelecidas.
A qualificação profissional recebe a
designação de capacitação que adquire força nas escolas. A capacitação tem como
finalidade o acompanhamento e a qualificação de recursos humanos para repetir
tarefas, em especial pela crescente e continua evolução das tecnologias. ( se o
educador não se inserir nessa era digital será condicionado a ser um analfabeto
digital e totalmente descartável) a
capacitação e a atualização dos profissionais tem como objeto a preparação de pessoal habilitado
para um determinado manejo ou técnica. A capacitação pode ser entendida como o
convencimento ou persuasão, o que geraria
um treino sem abordagem CRÍTICA E
REFLEXIVA.
Marin em seu livro sobre docência, diz:
“
O profissional da educação não pode e nem deve ser persuadido ou convencido de
ideias ; ele deve conhecê-las, analisá-las, criticá-las e até mesmo aceitá-las”.
Nas décadas de setenta e oitenta , as
capacitações, em geral designadas como RECICLAGEM tinham a finalidade de
renovar ou remodelar a prática pedagógica dos docentes. Essa reciclagem queria
gerar o papel de professores multiplicadores, onde aquele que iria para a
formação ( reciclagem) , acreditavam que podiam repetir seu preparo para
aqueles que não foram e assim passaria sua aprendizagem sua experiência ,
repetir seu preparo para o outro colega. Esta proposta nem chegava a uma verdade de fato, pois o
professor realizava um curso com profissionais qualificados e ao chegar à
instituição tinha dificuldade em realizar a função de preparar seus colegas
para nova atividade. Em geral, os professores escolhidos para tal RECICLAGEM
não tinham os pressupostos necessários para oferecer a capacitação para seus
colegas.
Os nossos formadores estão capacitados para
esse trabalho? As propostas que trazem para as formações são analisadas e
escolhidas para realidade de sala de aula e com embasamento dos próprios
educadores?
Ainda bem que essa nomenclatura RECICLAGEM
foi condenada, pois tendo como significado refazer o ciclo, ela implica em
voltar à universidade para refazer sua formação.
Nesse paradigma , a capacitação tem como
objetivo a atualização, a qualificação e o aprimoramento dos profissionais e
tem como finalidade possibilitar a maior eficiência e eficácia no desempenho de
atividades e tarefas em suas funções. Este paradigma precisa ser rompido com
urgência , pois estamos LEGITIMANDO a
reprodução, a memorização, a fragmentação do conhecimento,
Nóvoa , em seu livro sobre capacitação, diz:
“A
formação não se constrói por acumulação ( cursos, atividades pré-
estabelecidas, técnicas), mas sim por um trabalho de reflexividade crítica
sobre as práticas e de reconstrução permanente de uma identidade pessoal. Por
isso, é tão importante investir na pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência.”
Estamos mantendo um protocolo , obedecendo a
critérios pré- estabelecidos, levando os educadores a uma vez por mês se
sentarem e compartilharem um encontro que serve somente para a provocação, mas não instrumentalizam esses
profissionais para modificar a docência. Alguns professores de maneira
voluntaria buscam investigar novas metodologias para ensinar e aprender, mas,
na realidade , MUITOS,docentes sofrem a pressão da gestão e dos próprios alunos
para mudança. Uma mudança que está gritando e que de forma contraditória essa
mesma gestão engessa.
Mudanças. Em meio a tantas, com as quais se
articula toda a sociedade capitalista, a qualidade da educação é tida como a
meta do governo para a educação no Brasil, de forma a considerar que a formação
profissional é o único caminho que leva à obtenção da qualificação desejada. Estímulos,
como garantir uma remuneração baseada no histórico- cognitivo do aluno, tendo
como base a produção em sala de aula. Se a turma for bem assistida e notas boas
o professor terá uma gratificação, baseada nessa premissa. Entretanto, não se
pode desconsiderar que toda essa gama de estímulos do governo, não é, por si
só, garantia de qualidade.
Nessa sociedade emergente do conhecimento
começa a ser cada vez mais urgente formar e preparar as pessoas para o incerto,
para a mutação e para situações únicas e até chocantes que lhes exijam um maior
esforço para a paz e o desenvolvimento de maiores capacidades de resiliência.
Como preparar nossos alunos para essa atual
sociedade da resiliência? Nossas formações dão condições para o professor
preparar essa nova sociedade? Sabemos que não. A resiliência é a capacidade de
submeter-se a uma gama de problemáticas e ações tendo como premissa o “esticar”
o “adequar”o “persistir” o “resistir” sem se quebrar. Como uma mola que estica
e não perde o seu formato. Ela a cada instante se adéqua de maneira perfeita e
RESILIENTE.
Formações que se constrói a ideia de que
estudar não demanda esforço, busca-se a titulação sem esforço, uma formação de
faz de conta , segundo a qual um ensina
( ensina o que?)e um outro aprende ( aprende o que?) nesse sentido desfigura-se
totalmente o ensino-aprendizagem ( a resiliência). O conhecer, o explicar, o
compartilhar, o construir, o avaliar, nesse processo, fica onde? Como o aluno
terá condições de concorrer aos caminhos da Universidade se os professores não
são capazes de levá-los a percorrer esse caminho?
Participar das formações nesses tempos é
jogar fora um tempo precioso ao que tange ensino – aprendizagem.
O que está acontecendo com nossos formadores,
com a política que envolve a formação? Onde está o fio da meada para que
possamos juntos tecer novamente e não se perder mais? O que podemos fazer para
mudar e mudar urgentemente essa situação?
Fico triste, decepcionada quando deparo com
professores que tiram esse tempo para simplesmente sair de sala de aula, como
uma folga, um escape, e não pela necessidade de se preparar adequadamente, ou
buscar refletir seu fazer pedagógico, mas deveras, sabemos que nossas
formações, como foi citado acima precisa urgentemente de uma resignificação.
Gleide
Borges Hartuique
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